(12/08/09)
PRETÉRITO IMPERFEITO
Às vezes me lembro de um alguém,
Que no espelho não reconhecia.
Esperando o que não vinha.
Um futuro, outra vida.
Ao fim do dia, só quero ouvir.
A mesma voz que ouvia.
Coisas simples, contradições,
Saudades do que não sentia
Sinto saudades de meus companheiros
A eles devo meu ser
Emudeceram e me deixaram mudo
Sem saber o que fazer
As lembranças que se perdem
O futuro não devolverá
Retirando suas mão
Para não lhe alcançar
Seguindo rastros de Gentileza
Nos pilares, sangue e cinzas.
Do início ao fim da vida
Sobre os ombros sua sina.
Pouco interessa o nosso passado
Pois o tempo apagará
Ainda acredito em utopias
Pois sem elas o que me restará
Um dia acaba, tem que acabar.
Ninguém sabe nossa hora, mas ela chegará.
Acordei e o horizonte está mais azul
Já perdi o meu norte hoje busco sul
Sua economia sorri verdades para forjar.
Um dia este carrossel, para de rodar.
(13/08/09)
INFINITOS LABIRINTOS
Toda manhã deste triste inverno.
Todo este azul esconde uma miséria.
Tudo ou nada, eu sei a vida é um mistério.
Toda esta alegria de verdades se faz mentira.
Anoitece, a mesma lua vem nos consolar.
Nos olhares sonhos se multiplicam.
Pés descalços conhecem os caminhos
Alguns milagres nos abismos caíram
Nos becos escuros anjinhos perdidos.
Rios de tristezas afogam esta dor.
No alto deste morro, paisagem a avistar.
Em todas as encostas um frágil sussurrar.
Morte e vida abraçando ilusões.
O coma da igualdade e justiça.
Preenche o mesmo vazio de nossos corações.
Despertar para poder voar
Nesta primavera os dias serão cinza
Sem teus olhos para me confortar
Só entre conflitos da multidão
Vejo o céu distante e nós perdidos em labirintos
O esquecido amor faz as lágrimas virarem dor.
(20/10/09)
BECO ESCURO
Criança que sorriso é este?
Para onde foram aquelas mágoas?
Talvez teus sonhos ainda persistam
Ainda que as mortes os corrompam
Eu vejo seus olhos enfurecidos
Junto com a mortal sombra da noite
E sinto o que você sofreu
Tendo só a lua como testemunha
Neste momento reze enquanto procuras
Perfeito em seus passos seja sempre
Ou suporte seus desesperos
Te vejo dormir no beco escuro
Vejo ainda sua lagrima cair
Sei que respostas ainda procuras
Mas posso fazer teu fardo aumentar
Acorde! E encontre sua saída.
Pois nós os demônios te seguiremos
Suas idéias não seguem nosso formato
Exterminaremos nossos defeitos!
(01/11/09)
BREVE CICATRIZ
Caído sob uma árvore de exuberante cobertura composta de folhas rugosas, brilhantes e de detalhado desenho elíptico. Ao seu lado encontrava-se uma lixeira de tijolos com abertura metálica, aspecto monstruoso de péssima arquitetura. Sobre um leito de folhas velhas e terra vermelha úmida. Trajando calça e suéter cinza, sapatos negros muito bem engraxados. Equilibrava-se a um fardo volumoso e pesado, a qual transportava.
Olhava ao redor aparentemente cansada com ofegante respiração, embora a umidade em seus olhos embaçasse sua visão. De fácil sorriso, aponto de roubar alguns segundos em sua face de dor. Sobrancelhas grossas e austeras escondiam seus misteriosos pensamentos. Cabelos bagunçados pelo vento um ar de cientista, mãos sujas e machucadas ocultavam sobre suas roupas molhadas.
Subitamente uma amável senhora, trajando roupas simples, que a pouco o observava, aproxima-se… Sendo então interrompida: – A senhora me ofereceria água? – Ela retorna com a água e pergunta ao senhor se ele estava com fome. A senhora se retira sem perceber o pássaro morto nas mãos do desconhecido.
Ao retornar trazendo um prato de sopa de lentinha, para aquecer o corpo em um dia frio, ela assiste a frustrada tentativa do desconhecido de se erguer. Preocupada com a saúde alheia pergunta: – Sentes alguma dor?- O homem responde que está com pouca força motora. Ela insista: – Tem família? – Ele responde balançando a cabeça positivamente. – O senhor trabalha? –Sou biscateiro, não sou vagabundo como à senhora pensa, carrego este saco desde cedo, mas estou com pouca força motora. – O que carrega neste fardo? -A vida. –Após alguns segundos de profunda reflexão, a mulher perguntava: – O senhor conhece o abrigo da prefeitura? –O homem responde. –Ah sei… Eu estou indo para casa, mas estou com pouca força motora.
Mais uma vez o silêncio é percebido, o senhor estende a mão suja e a mulher com receio a aperta. Logo após com tristeza no olhar à senhora se volta para casa e murmurando, diz: – Fiz a minha parte. – Enquanto observa a ferocidade da alimentação do indivíduo.
Horas após, simultaneamente ao esbarrar de desconhecidos apressados nas calçadas e o toque das seis horas do sino da igreja. A senhora lembrou-se do ocorrido, e ao se dirigir a janela percebe que não há ninguém sob a árvore. Mas a breve lembrança criou uma angústia no peito que aumenta ao ver toda a miséria em volta, cada vez mais própria de nossa realidade.
Olá!
Ainfa aguardo a atividade sobre a questão da mulher, poderíamos tentar uma mais ampla do CCS, o que acha?
Abraços,
Clarissa.
By: Clarissa on 22/10/2009
at 23:47